Estatísticas oficiais obtidas junto aos órgãos da segurança pública indicam que Mossoró vivencia um dos anos mais violento de sua história. Já foram contabilizadas 100 mortes provocadas por arma de fogo, arma branca, espancamento e queimaduras.
Crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos foram assassinados nos mais diferentes pontos da cidade ou zona rural, fazendo aflorar a criminalidade que assusta e faz refém toda a população.
Os 100 crimes ocorridos mostra o poder de fogo dos criminosos e a fragilidade da polícia, que se depara com crimes difíceis de serem solucionados. O primeiro semestre deste ano só perde para 2011, quando neste mesmo período já ultrapassava os 110 homicídios.
De acordo com os registros do Instituto Técnico e Científico de Polícia (Itep), maio foi o mês mais violento, onde 23 corpos deram entrada no órgão.
O jornal O Mossorense, que teve acesso aos registros, contabilizou também a criminalidade dos outros meses, que apresenta a seguinte estatística dos crimes: julho um, junho 19, maio 23, abril 13, março 21, fevereiro nove e janeiro 14.
Para o delegado Denys Carvalho da Ponte, titular da Delegacia Regional de Polícia Civil, a maioria dos crimes ocorridos no município está ligada direto ou indiretamente ao consumo e tráfico de drogas, dessa forma boa parte das mortes são complicadas de se investigar.
"Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo delegado Roberto Moura, da Delegacia Especializada em Homicídios, para investigar as mortes é a falta de testemunhas, inclusive dos familiares das vítimas que não se arriscam a dizer o que sabem", explicou.
Para o delegado, as mortes ligadas ao tráfico de drogas são as piores para serem investigadas, devido, justamente, a falta de provas. "O medo de ser a próxima vítima impede as pessoas de falarem. Em muitos casos o sujeito foi assassinado na presença de várias pessoas, mas na hora de repassar as informações à polícia ninguém viu nada", destacou.
Família está revoltada com impunidadea menores que assassinaram “Boy Robim”
Os familiares do caraubense Robson Raniere da Cunha, 22, "Boy Robim", que era foragido do Complexo Penal Estadual Agrícola Mário Negócio (CPEAMN) e foi assassinado a tiros em uma estrada carroçável do Alto da Pelonha, no dia 25 de janeiro, reclama da impunidade dos assassinos, que mesmo tendo sido identificados continuam soltos por serem menores.
"Meu sobrinho era foragido, mas cabia às autoridades a missão de recapturá-lo. Só que ao invés disto ele foi morto e os assassinos identificados, só que até agora estão soltos e isso nos revolta", destacou a tia da vítima.
Medo faz familiares se mudarem após assassinato
Uma das situações mais comuns encontradas pela polícia durante as investigações de um crime é a mudança de endereço dos familiares das vítimas.
Para o delegado Denys Carvalho, essa prática de mudar de endereço se dá devido ao medo que os familiares têm dos assassinos, que geralmente são conhecidos no bairro. "É muito comum após o crime de um ente querido a família mudar de endereço. O medo e a revolta de estar convivendo com o assassino faz com que as famílias se mudem de bairro ou até de cidade", explicou.
De acordo com registro do O Mossoroense, em uma pesquisa realizada em 2011, aproximadamente 40% dos familiares das vítimas mudam após o crime. A pesquisa detectou que impunidade dos agressores, associado ao medo e revolta fazem com que as mudanças ocorram quase que no mesmo dia do sepultamento do ente querido.
Esse processo pode ser também inverso e em alguns casos, os familiares dos agressores são os propensos a mudança de endereço, por medo de vingança.
O psicólogo João Valério Alves Neto explica que tanto a família das vítimas, quanto a dos agressores sofrem quase as mesmas consequências quando ocorre um crime. "Desestrutura tudo nas famílias quando ocorre um ato de violência. Afeta pai, mãe irmãos, seja do agressor ou da vítima. Isso é reflexo da violência que vai desencadear um leque de outros fatores que vão atingir diretamente os dois lados do conflito", concluiu.
Crimes que desafiam as investigações policiais
A equipe de investigação da Dehom, que apura a maioria dos crimes ocorridos em Mossoró, tem se deparado com inúmeros casos complicados de serem solucionados.
Entre os casos mais complexos está o do agente penitenciário estadual Ronilson Alves da Silva, 35, que residia no conjunto Abolição II e prestava serviços no cartório do Complexo Penal Estadual Agrícola Mário Negócio (CPEAMN). Ele foi encontrado morto com tiros na cabeça e sentado no banco traseiro do seu veículo.
O crime ocorreu na manhã do dia 25 de junho em uma estrada carroçável, próximo ao conjunto Santa Helena II, bairro Santo Antônio. Mesmo as investigações já tendo algumas pistas sobre os assassinos, o caso pouco andou e até o momento ninguém foi se quer indiciado ou preso.
Para piorar ainda mais as investigações policiais, um menor suspeito de ter participado da morte de Ronilson Alves foi executado a tiros dois dias após o crime, levantando a desconfiança da polícia, que o adolescente teria sido "apagado como queima de arquivo".
"Estamos dando prosseguimento às investigações que são complexas, mas seria imprudente da nossa parte dizer que a morte do adolescente teria sido queima de arquivo, no entanto, nenhuma possibilidade será descartada até que o crime esteja perto de ser elucidado", destacou o delegado Roberto Moura, titular da Dehom.
FONTE - O MOSSOROENSE